Nós começamos de um jeito estranho, e eu me lembro de todas as vezes em que você falou disso com brilho nos olhos; da forma como nos conhecemos, da nossa primeira conversa. Me lembro de quando você falava que nosso primeiro beijo fora o melhor da sua vida, e agora, dia após dia, eu tenho que passar e olhar para aquele lugar e lembrar de como tudo começou, e lamentar a forma como as coisas acabaram.
Você é só uma garota egoísta e mimada! E cuidar de você, proteger você do seu próprio ego, era meu passatempo favorito. Não posso dizer que nunca reclamei disso, por que seria mentira. Tudo o que eu queria era recompensação, ou, ao menos, reconhecimento. Faz ideia das inúmeras vezes que eu chorei depois que você saiu da minha casa por que eu tentava lhe contar os meus problemas, mas você raramente dava-me ouvidos? É claro que você não faz ideia, por que eu secava as minhas lagrimas e acordava no outro dia com um sorriso no rosto.Talvez tenha sido hipocrisia. A realidade é que eu nunca fui inteiramente honesto com você. Eu te escondi meus maiores medos, te escondi os meus piores problemas, escondi minhas mais devastadoras fraquezas. Por que você nunca as quis ouvir.
E eu te amo tanto, mesmo assim. Mesmo você tendo me abandonado no começo, mesmo você tendo tapado os ouvidos para mim no meio, e mesmo você tendo me ignorado no final.
Eu me lembro de cada uma das suas cartas, da forma como você descrevia o que havia entre nós. Me lembro dos presentes que eu te dei, e dos que eu ganhei em troca. E eu só queria que você soubesse como dói olhar para eles todos os dias e saber que já foram símbolos do nosso amor, e agora são só objetos sem alma em cima de uma prateleira.
Durante algumas das noites que eu passei pensando em nós, eu tive vontade de voltar no tempo e fazer as coisas diferentes. Mas eu não sei se eu saberia fazer a coisa certa.
Eu tenho um gênio difícil, sou orgulhoso e teimoso e talvez até um pouco displicente. E você é possessiva e nem um pouco compreensiva. Mas de alguma forma funcionava. É estranho dizer isso agora, mas em algum dia perdido na história, nós dois já demos certo! E não me olhe com essa cara, você sabe que foram várias essas vezes.
Eu vi você chorar e sorrir durante esses anos. Te vi me elogiar, te vi reclamar, se desculpar, e fazer tudo de novo. E eu te perdoei, todas essas vezes. Todas as vezes em que eu estava certo, e mesmo assim eu lhe pedi desculpas só para que ficássemos bem. Apaguei os seus erros da minha memória para seguir em frente, mas eles sempre vinham a tona, como armas.
Acho que esse sempre foi o nosso problema; nós usávamos os deslizes um do outro como armas nas discussões. E não importava a reconciliação, não importava o perdão, nós sempre minávamos nossas brigas com erros passados.
Eu não fui um bom namorado, eu sei disso. Sei que também fechei meus olhos pra você, sei que também desmereci os seus problemas chamando-os de “besteiras”. Eu olhava para mim e via como isso era injusto, então eu me arrependia. E fazia tudo de novo. Eu sei, me perdoe por isso. A única coisa que eu gostaria que você enxergasse por si mesma, como eu fiz, é que em todas as vezes que eu lhe virei as costas, foi para que esfriasse a cabeça e tomássemos uma decisão sóbria. Essas decisões sóbrias teriam mudado o curso de tudo.
Nós poderíamos estar juntos agora. Você não passaria os domingos sozinha, e nós voltaríamos a olhar filmes no conforto dos cobertores no inverno. Talvez, daqui há algumas semanas, nós brigaríamos mais uma vez. Mas se você fosse paciente, nós daríamos outro jeito, teríamos outra reconciliação.
“Nós vamos dar um jeito!”, eu adorava essa frase, quando a questão era “E se nada der certo?”
Esse lugar está infestado de lembranças, e isso não facilita em nada as coisas. Mas acredito que ao fechar os olhos você passe pelo mesmo tormento que eu.
Eu vou manter minha promessa de jamais te esquecer. Mesmo que seja a coisa errada a se fazer, mesmo que torne tudo ainda mais doloroso. Nós já quebramos promessas demais, essa eu quero manter intacta.
Espero que me perdoe pelas noites em que você chorou, e pela dor que você sentiu ao acordar pela manhã e se lembrar de que precisava arranjar outra razão pela qual continuar fazendo isso. Espero que me perdoe por ter tornado as coisas mais difíceis, por ter te desapontado e se alguma vez eu não te fiz sentir incrível como você merecia.
Esse é o ultimo julgamento que eu faço à seu respeito, por que eu também precisava de um momento de egoísmo. As memórias hão de nos castigar por conta própria.
Estou descobrindo isso colocando nossos anéis de volta na caixa e lembrando do dia em que eles saíram de lá pela primeira vez. Mais cedo ou mais tarde você também vai descobrir.
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