domingo, 18 de julho de 2010

Memórias Sépias


05.07 Bom, existe uma porção de coisas sobre mim que eu pensava que você não sabia. Hoje vejo que foi mero desinteresse seu em ficar sabendo. Naquelas noites em que o telefone soou desligado quando, desesperada pelo tom sinicamente afável da sua voz, eu tentei inutilmente quebrar o silêncio dos meus ouvidos. Mas tudo o que consegui foi com que meu coração continuasse mudo, como aquele telefone que eu esperei tocar, mudo como as notas musicais que eu não consegui ouvir.Mas hoje vejo que os momentos de eterna frustração que você me gerou foram meras desventuras do destino, pedras inoportunas que Alguém colocou no meu caminho para me fazer aprender a identificar erros e evitá-los, para que eu não esperasse pelo toque urgente do telefone novamente.Te ver hoje com o ar feliz de um menino que descobriu a sorte grande já não me afeta como naqueles tempos que eu travava guerras com o meu coração, as outras garotas que te interessam e fazem parte da sua vida já não me despertam interesse mórbido como provocariam há tempos atrás. Sua voz já não soa tão melódica e entorpecente como antes, são apenas zumbidos, leves lembranças de um som que já mexeu com o meu humor um dia.Gostaria de ter um tom sincero ao dizer que te desejo toda a sorte que pode conseguir, mas não sei se és merecedor dos meus bons votos depois daquela mancha no meu passado. Aquilo que deveriam ser memórias se tornaram feridas, cicatrizes expostas e sensíveis ao toque que fizeram-me blindar meus sentimentos novamente.Apesar das frustrações e dos infortúnios que me causaste em tempos que meu sorriso dependia da tua vontade, lembro-me também das boas lembranças de dias felizes em que não estiveras com vontade de me ferir. Dias que passei sorrindo ao teu lado, quando parecia que querias tornar recíproco meu sentimento por ti. Tenho de admitir que preferia lembrar apenas disso, dos dias de sol que você não ousou eclipsar e dos sabores acolhedores que deixavam meu mundo mais fácil. Mas você borrou isso com a sua indiferença como quem passa a mão em uma tinta fresca.Hoje tudo o que restou foi a amizade sínica e retraída de quem não quer lembrar o que aconteceu. O amigo que tu te tornaste pra mim, é como tomar um suco demasiado doce para disfarçar o amargo adstingrente de um limão. Tua amizade é um consolo, um muro que impede as memórias de vir à tona.Você já não faz parte dos meus dias e se tornou apenas um anexo da minha rotina, uma adição sem demais importância. Hoje eu encontrei, graças à Deus, a paz que você me fez perder em algum lugar do tempo. Regressei por mim mesma à um lugar onde meu coração é inatingível, não preciso trancar-me no meu quarto para esconder as lagrimas que você me arrancava, não preciso da tua presença para que minha respiração seja completa e constante. Quero apenas que fique vivo e por conseqüência, feliz; para que eu não precise sequer passar perto de algo como culpa, para que eu te olhe bem e use isso como incentivo pra minha própria felicidade.As letras que escrevi por você estão em algum lugar do meu quarto junto com as tuas cartas que eu não quero ler. Tranquei-as na gaveta mais inacessível do meu coração, para que elas não tragam as memórias boas e a dor do arrependimento. Eu me atirei em queda livre contando com a segurança de um pára-quedas, confiei que teria um apoio para não cair em contato direto com o chão; mas foi pouco esforço dessa segurança comparado à intensidade da minha queda. Eu caí. E quando dizem que “do chão você não passa”, raramente sabem o quão suficientemente ruim o chão pode ser. Precisei da queda para por os pés no chão, precisei da sua falha pra entender o quão infantil eu estava sendo esperando alguma coisa de você. Hoje vejo você como você é, e não como a projeção perfeita que eu teimava inutilmente em espelhar em ti.Mas isso tudo é apenas mais uma pagina virada do meu diário que eu não quis queimar, não é mesmo? Espero que as próximas sejam melhores e menos borradas, com ou sem você.

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